Como o fenômeno do ‘sommelier de vacina’ pode prejudicar a imunização
Em São Bernardo do Campo, quem se recusar a tomar a vacina disponível terá que assinar termo e esperar que demais pessoas se vacinem, antes de voltar para fila
- A postagem ganhou adesão do secretário municipal de saúde de Salvador, Leo Prates, que compartilhou a mensagem de Xande e completou. "Aqui em Salvador, vacina boa é vacina no braço! E aprovada pela Anvisa! #VacinaBoaÉaVacinaNosBraçosDoPovo", escreveu o secretário
Os relatos de agentes da saúde que estão na linha de frente da vacinação se repetem Brasil afora: as filas enormes para receber o imunizante contra a Covid-19 começam a se dissipar quando as pessoas descobrem que não receberão uma dose da sua marca de preferência e, sim, de outro fabricante. As justificativas passam pela dúvida sobre a eficácia ou sobre a segurança dessas vacinas — quase sempre instigadas por notícias falsas. E a fila da vacina, que deveria correr para frear a disseminação do vírus e o surgimento de novas variantes, começa a ficar mais lenta.
O fenômeno da recusa e da escolha de vacinas no Brasil — ou, simplesmente, sobre os “sommeliers de vacina”, como ficaram apelidadas essas pessoas nas redes sociais. Em um país com poucos imunizantes disponíveis, essa seletividade pode significar uma disseminação ainda maior do vírus e comprometer o controle da pandemia. Em uma conversa com a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, Carol Nogueira analisa quais impactos a escolha de vacinas pode ter no plano de imunização no Brasil. Ao longo do episódio, também ouvimos relatos dos transtornos que esse fenômeno tem causado em postos de vacinação pelo país.
Exemplo de São Bernardo do Campo
A partir desta quinta-feira (1º) a pessoa que se recusar a tomar a vacina contra a Covid-19 disponível no posto onde se cadastrou, na cidade São Bernardo do Campo, em São Paulo, terá que assinar um termo de responsabilidade que a coloca automaticamente no fim da fila da vacinação. O anúncio foi feito pelo prefeito da cidade, Orlando Morando, em uma transmissão online.
A medida visa combater o ‘sommelier de vacina’. Sommelier é a pessoa responsável pela carta de vinhos dos restaurantes. No caso da imunização, a expressão se refere às pessoas que estão escolhendo qual vacina tomar e, com isso, atrasando a velocidade da campanha no país.
“Caso a pessoa se recuse a assinar, duas testemunhas que estarão trabalhando no local irão assinar. Essas pessoas que se recusam a tomar a vacina no dia serão submetidas para o fim da campanha de imunização, ou seja, depois do último adulto de 18 anos na fila”, afirmou o prefeito Orlando Morando (PSDB) durante a transmissão de uma live em uma rede social.
Segundo ele, na terça-feira (29) cerca de 200 pessoas se recusaram a tomar a vacina. Na cidade, a pessoa precisa se cadastrar e ir ao local de vacinação no dia programado.
“Insisto que vacina não é para escolher. Você lembra a marca da vacina que tomou de gripe? Não lembra. Ninguém nunca pediu marca de vacina. Por que agora, no meio da maior pandemia da humanidade, as pessoas querem escolher vacina?”, completou.
O prefeito ainda destacou que não está proibindo a vacinação de quem está escolhendo vacina e que cada indivíduo está no seu direito se não quiser tomar o imunizante.
Autoridades têm insistido na importância de que se tome qualquer uma das vacinas disponíveis contra a covid-19, desde que não haja algum tipo de restrição, como no caso das grávidas e puérperas, que, conforme determinação da Anvisa e do Ministério da Saúde, não estão sendo vacinadas com o imunizante da Oxford/AstraZeneca.
Vacinado no último dia 16, o sambista Xande de Pilares entrou na campanha contra o ‘sommelier’ de vacina ao ser imunizado. Ele cantou uma composição onde pede que as pessoas parem de escolher a vacina que vão receber.